Dois livros, dois escritores que provavelmente não se
conheciam, duas histórias parecidas. Um fenômeno, dois, muitos, Semelhanças. O
que isso pode ter a ver com cibercultura? O que isso pode ter a ver com ciber
qualquer coisa? Poderia ser tudo se eu fosse falar de livros digitais, os
chamados ebooks, mas não é o que eu vou fazer, pelo menos não agora.
Para entender melhor, um certo inglês que sobreviveu depois
de um acidente nos andes peruanos resolveu contar sua história em um livro
chamado “Tocando o vazio”. O livro teve uma boa crítica, boa resenha, mas não
vendeu muito e acabou sendo esquecido por um tempo. Acontece que outro homem
viveu uma história parecida, com acidente em montanhismo e esse resolveu também
escrever um livro chamado “No ar rarefeito”. Esse, por sua vez, virou um
fenômeno de vendas, um sucesso, até que “Tocando o vazio” começou a vender
mais, mais, até chegar a vender mais que seu sucessor.
Não se trata do talento dos escritores, Joe Simpson e Jon
Krakauer, não é porque uma história é mais emocionante que a outra ou foi
melhor escrita, nem é sobre o mérito de qual é o melhor livro entre os dois, a
questão reside em outro(s) aspecto(s): a época em que ele saíram,
provavelmente.
O que acontece é que além do marketing boca a boca, que por
si só já é muito eficiente, criou-se uma nova forma de fazer marketing, possível
graças à facilidade de se fazer compra pela internet, o que quase todo mundo já
faz. Acontece que os sites criaram sistemas, a partir dos quais se alguém
compra um livro, um cd, ou um dvd, aparecem sugestões do que outras pessoas
compraram depois de ver aquele mesmo produto (é só entrar no site da Saraiva
pra ver isso na prática), as pessoas tem acesso a resenhas, informações e
opiniões a respeito de algo que elas nem sabiam que existiam, é como se fosse
uma propagando boca a boca, só que agora é online e isso expande
consideravelmente as possibilidades e os limites, criam-se assim os nichos.
Bem, atualmente é muito fácil achar que gostamos, por
exemplo, de uma música que está tocando muito nas rádios, ela é basicamente uma
das poucas coisas a que somos expostos, isso cria uma tendência de crescimento
para aquilo, uma espécie de ciclo que gera mais e mais exposição, a indústria
investe mais naquilo, que se torna central. Voltando aos nichos, é assim que
eles surgem. Dentro da internet, não existe os limites geográficos ou os
limites de exposição. Através do que já gostamos, chegamos a diversos outros
lugares que não conhecíamos e gostos que nem podíamos imaginar. É assim que se
caracteriza a cauda longa (que não tem a nada a ver com o Godzilla), é essa
vasta gama de possibilidades, nichos e lugares aonde se pode chegar.
Como o texto fala, “a realidade concreta impõe muitas
limitações”. O que isso quer dizer? Uma loja física por exemplo, gasta para
manter certos produtos em seu estoque, ela não pode manter o produtor se ele
não gerar lucro. Além disso, a área que ela atinge pode ser muito pequena
dependendo do que ela vende, mas dificilmente vai ser além de uma única cidade,
esses são os limites geográficos que eu já citei. São mais pontos positivos
para as lojas online, que não tem que lidar com esses problemas, o alcance é
maior e ela possui uma vasta gama de produtos que pode expor sem ocupar muito
espaço.
Não é um fenômeno restrito apenas às lojas, é algo que já
pode ser visualizado nas mais diversas situações, como o Netflix (que supera as
locadoras) e redes sócias como o Last.fm que vai além de uma loja de discos. Com
tantas possibilidades, estamos descobrindo que podemos gostar de mais do que
nos impõem. A dinâmica muda, não gostamos mais daquilo que nos ordenam, é como
ter a escolha e chamada “moda” já não dita o que vai fazer parte dos nossos
gostos. Essas inúmeras possibilidades que se abrem como um leque a um clique de
distância constituem o que chamamos de cauda longa, longas possibilidades.
Se por um lado, ainda temos que lidar com a exclusão
digital, também podemos observar uma crescente democracia online, percebida por
todos os exemplos citados acima, a maior variedade de escolha, a exclusão dos
limites, a evolução que nasce a partir de tudo isso. É difícil imaginar ter
medo de algo assim, é claro que como quase tudo na internet depende muito do
tipo de uso que fazemos, mas o Lucas vai ter que me perdoar porque isso não é
um Godzilla, é um megazord pronto para ajudar todo mundo. Só que com cauda,
talvez destruindo uma coisa ou outra pelo caminho, só talvez.
Imagem: my-shiny-toy-robots.blogspot.com.br/
Por Maggie Paiva
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