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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O megazord das possibilidades

Dois livros, dois escritores que provavelmente não se conheciam, duas histórias parecidas. Um fenômeno, dois, muitos, Semelhanças. O que isso pode ter a ver com cibercultura? O que isso pode ter a ver com ciber qualquer coisa? Poderia ser tudo se eu fosse falar de livros digitais, os chamados ebooks, mas não é o que eu vou fazer, pelo menos não agora.

Para entender melhor, um certo inglês que sobreviveu depois de um acidente nos andes peruanos resolveu contar sua história em um livro chamado “Tocando o vazio”. O livro teve uma boa crítica, boa resenha, mas não vendeu muito e acabou sendo esquecido por um tempo. Acontece que outro homem viveu uma história parecida, com acidente em montanhismo e esse resolveu também escrever um livro chamado “No ar rarefeito”. Esse, por sua vez, virou um fenômeno de vendas, um sucesso, até que “Tocando o vazio” começou a vender mais, mais, até chegar a vender mais que seu sucessor.

Não se trata do talento dos escritores, Joe Simpson e Jon Krakauer, não é porque uma história é mais emocionante que a outra ou foi melhor escrita, nem é sobre o mérito de qual é o melhor livro entre os dois, a questão reside em outro(s) aspecto(s): a época em que ele saíram, provavelmente.
O que acontece é que além do marketing boca a boca, que por si só já é muito eficiente, criou-se uma nova forma de fazer marketing, possível graças à facilidade de se fazer compra pela internet, o que quase todo mundo já faz. Acontece que os sites criaram sistemas, a partir dos quais se alguém compra um livro, um cd, ou um dvd, aparecem sugestões do que outras pessoas compraram depois de ver aquele mesmo produto (é só entrar no site da Saraiva pra ver isso na prática), as pessoas tem acesso a resenhas, informações e opiniões a respeito de algo que elas nem sabiam que existiam, é como se fosse uma propagando boca a boca, só que agora é online e isso expande consideravelmente as possibilidades e os limites, criam-se assim os nichos.

Bem, atualmente é muito fácil achar que gostamos, por exemplo, de uma música que está tocando muito nas rádios, ela é basicamente uma das poucas coisas a que somos expostos, isso cria uma tendência de crescimento para aquilo, uma espécie de ciclo que gera mais e mais exposição, a indústria investe mais naquilo, que se torna central. Voltando aos nichos, é assim que eles surgem. Dentro da internet, não existe os limites geográficos ou os limites de exposição. Através do que já gostamos, chegamos a diversos outros lugares que não conhecíamos e gostos que nem podíamos imaginar. É assim que se caracteriza a cauda longa (que não tem a nada a ver com o Godzilla), é essa vasta gama de possibilidades, nichos e lugares aonde se pode chegar.

Como o texto fala, “a realidade concreta impõe muitas limitações”. O que isso quer dizer? Uma loja física por exemplo, gasta para manter certos produtos em seu estoque, ela não pode manter o produtor se ele não gerar lucro. Além disso, a área que ela atinge pode ser muito pequena dependendo do que ela vende, mas dificilmente vai ser além de uma única cidade, esses são os limites geográficos que eu já citei. São mais pontos positivos para as lojas online, que não tem que lidar com esses problemas, o alcance é maior e ela possui uma vasta gama de produtos que pode expor sem ocupar muito espaço.

Não é um fenômeno restrito apenas às lojas, é algo que já pode ser visualizado nas mais diversas situações, como o Netflix (que supera as locadoras) e redes sócias como o Last.fm que vai além de uma loja de discos. Com tantas possibilidades, estamos descobrindo que podemos gostar de mais do que nos impõem. A dinâmica muda, não gostamos mais daquilo que nos ordenam, é como ter a escolha e chamada “moda” já não dita o que vai fazer parte dos nossos gostos. Essas inúmeras possibilidades que se abrem como um leque a um clique de distância constituem o que chamamos de cauda longa, longas possibilidades.

Se por um lado, ainda temos que lidar com a exclusão digital, também podemos observar uma crescente democracia online, percebida por todos os exemplos citados acima, a maior variedade de escolha, a exclusão dos limites, a evolução que nasce a partir de tudo isso. É difícil imaginar ter medo de algo assim, é claro que como quase tudo na internet depende muito do tipo de uso que fazemos, mas o Lucas vai ter que me perdoar porque isso não é um Godzilla, é um megazord pronto para ajudar todo mundo. Só que com cauda, talvez destruindo uma coisa ou outra pelo caminho, só talvez.


Imagem: my-shiny-toy-robots.blogspot.com.br/


Por Maggie Paiva

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