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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Culto ao amador?

Keen inicia a introdução do seu livro afirmando que parece que estamos regredindo no tempo. Bem, eu não poderia concordar mais com ele, no entanto, as concordâncias entre o que eu penso e o que ele afirma no decorrer do seu texto ficam apenas nessas primeiras linhas, visto que acreditamos na mesma máxima por motivos completamente diferentes.
Keen cita algo que ele chama de cultura do amador, onde a "falta de conhecimento" é cultuada, de tal forma que se valoriza cada vez menos os esforços que outro fazem para alcançar conhecimento, patamares e resultados.
De acordo com Keen, um garoto de 15 anos é incapaz de saber mais sobre celulares que um Engenheiro Eletrônico que passou por uma universidade reconhecida, não importa o quanto o garoto tenha aperfeiçoado seus conhecimentos através de pesquisas, estudos informais e do próprio uso. Sendo assim, o que aquele garoto tem a oferecer em relação ao assunto, não deveria ser levado em consideração, ou pelo menos não tanto quanto o segundo personagem do exemplo.
Nas próprias palavras de Keen, "estão criando uma interminável floresta de mediocridade. Pois os macacos amadores de hoje podem usar computadores conectados em rede para publicar qualquer coisa, de comentários políticos mal informados a vídeos caseiros de mau gosto, passando por música embaraçosamente malacabada e poemas, críticas, ensaios e romances ilegíveis".
Não fosse suficiente os termos que ele escolheu, como "macacos" e "mediocridade", suas palavras denotam profundo desprezo pelo conhecimento não institucionalizado. Pior, é possível até mesmo inferir que, em sua opinião, pessoas com "menos conhecimento" não deveriam nem ao menor ser permitidas a compartilhar o que sabem.
Levando em conta que ele citou música, poesia e crítica, eu perguntaria a Keen se não é tudo uma questão de gosto, visto que assistimos a tantos debates do tipo serem travados na internet, principalmente, mas mesmo esse blog seria desconsiderado por Keen visto que ele defende que o conhecimento deve ser restrito, fechado.
Eu volto ao início, o único ponto em que concordo com ele é que também acho que estamos regredindo. Assistindo a tantos avanços trazidos pela tecnologia, entre eles uma maior democratização do conhecimento, é inconcebível para mim que ainda se defenda esse conhecimento institucionalizado, fechado e restrito a grupos, cercado de normas e envolto em redomas de vidro, na qual nem todos podem tocar. O que Keen cita como amador para mim é apenas a base de inúmeras possibilidade, não reconhecer isso é que seria, de fato, uma imensa regressão. Ou o autor esqueceu que o ápice do conhecimento e da inteligência podem ter base na mais profunda ignorância e vontade de aprender?

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